Quando ainda era um garoto de nove anos na cidade pernambucana de Goiana (a 60 quilômetros do Recife), Mário Guedes Peixoto ganhou seu primeiro trombone. Logo a disciplina, determinação e principalmente o talento chamara a atenção dos professores, no início do que seria uma carreira brilhante.
"Com 12 anos eu já era músico da banda de música da Saboeira Goiana. O mestre, que era trombonista, me deu um trombone. E eu cheguei a realmente a ter uma boa posição, a ser o primeiro trombone na Saboeira, muita satisfação para mim", relembra.
O garoto cresceu e deixou a cidade natal, para estudar música e Direito no Recife. No início da década de 50, com a inauguração da Rádio Tamandaré, começou uma nova fase na vida do músico. "Eu fui contratado para participar da Orquestra da Tamandaré. E lá chegando eu dirigi a orquestra de jazz, orquestra de sopro. A orquestra era composta de sopro clássico, como se chama a flauta, oboé, fagote e cordas, violino, viola, contrabaixo. E a parte de percussão e jazz, que eu dirigia. E aí chegamos a fazer Carnaval no Internacional, comecei a fazer frevo. Isso durou somente dois ou três anos. Veio a impossibilidade Rádio Tamandaré de continuar pagando, cerca de dois anos depois, quando foi encerrado o trabalho da orquestra. Fomos dispensados e aí eu tive coragem de rumar para outras paragens. fui bater no Rio, em São Paulo, e me fixei em São Paulo", conta.
Lá, Guedes Peixoto foi regente da Orquestra da TV Tupi. Mas a o convite para voltar ao Recife veio apenas dois anos depois, quando o Jornal do Commercio precisou de um regente para a orquestra para a Rádio Jornal. "Era uma famosa orquestra muito boa. Era uma orquestra de concerto, cordas e sopros clássicos e a parte de sopro popular e percussão", diz.
A Orquestra do Maestro Guedes Peixoto ganhou o público e passou a animar os bailes de Carnaval do Clube Português. O público disputava convites para participar dos bailes, mas existia também outra disputa: entre a Orquestra do Maestro Guedes Peixoto e a Orquestra do Maestro José Menezes. Mas só quem saía ganhando era o público. "Era um confronto que se realizava entre os clubes Internacional e Português, para ver quem botava mais público, quem terminava primeiro. Ficava-se de olho no Internacional e eles no Português, para ver quem terminava a festa... tinha que terminar depois. Essa era uma prática formidável, com muito entusiasmo e ininterrupto frevo, frevo, frevo", lembra o maestro.
Foi nesta época que Guedes Peixoto começou a compor seus frevos marcantes, com os famosos arranjos e seu inconfundível estilo. "O frevo é como nenhuma outra música. Uma beleza de música pernambucana. É uma música orquestral, puramente orquestral, na qual se usa todos os meios de composição: resposta, imitação, contraponto, todas as regras de composição estão lá. Para orquestrar um frevo é preciso ter conhecimento, por isso são raros os bons frevos", ensina.
Na década de 60, Mário Guedes Peixoto entrou na Orquestra Sinfônica do Recife. Ele foi convidado para tocar trompa e chegou a ser o primeiro trompista. Se destacou tanto na orquestra que em 75 passou a ocupar o cargo de regente. Ele ficou conhecido pelo perfeccionismo. Mas mesmo à frente de uma orquestra sinfônica não esqueceu a música popular.
Quando ainda era trompetista da Orquestra Sinfônica, ele deu os primeiros passos na regência de grandes óperas. "Eu fui atraído para o teatro de ópera de Pernambuco e passei a ser o regente. Então, nos concertos líricos, eu fazia as orquestrações, ensaiava com os cantores. Comecei a ganhar também um terreno nessas músicas de canto, música lírica, então óperas. Eu chegava a fazer concertos apenas para o teatro de ópera. Cheguei até a fazer La Traviata. Ópera composta mesmo".
Um dos exemplos que mostram esse gosto pela união da música erudita e da popular é a Polimorfia Nordestina É uma composição do próprio maestro. A peça foi apresentada pela primeira vez em 1990.
O maestro deixou a Orquestra em 1992. Mas esse gosto pelo popular ficou. Aos 77 anos, o maestro encontrou forças para subir mais uma vez no palco. No encerramento do Carnaval deste ano por alguns minutos ele regeu a Orquestra Multicultural do Recife. Os músicos tocaram "O Homem do Guarda-Chuva".
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