Desde as primeiras décadas de 1700, a sociedade mineira
se expressa de modo significativo por meio da música. O ciclo do Ouro,
no século XVIII, gerou uma vida urbana com notável atividade literária,
rica produção escultórica e arquitetônica, além de uma intensa vida
musical. Os rituais litúrgicos e as festas populares
eram valorizados pela música, que aos poucos tomou forma e ganhou
proporções originais revelando uma classe singular de músicos, em sua
maioria mulatos. A dedicação à música e a participação em irmandades
religiosas possibilitou ascensão social aos mulatos, já que atividades
profissionais como a medicina, direito e a carreira eclesiástica lhes
eram negadas.
Naquela época, ainda não existiam corporações musicais
organizadas, fixas: eram formados grupos de músicos para
apresentarem-se nas oportunidades que surgiam. Para as festividades
religiosas, as Irmandades promoviam concorrência para escolha de novas
composições que seriam tocadas durante cada evento. O músico ganhador
se responsabilizava pela composição, seleção dos instrumentistas e
cantores, além da regência do conjunto.
Para as comemorações oficiais do Reino,os trabalhos dos
músicos eram requisitados pelos Senados das câmaras, também através de
concorrência. Portanto, em todas as vilas havia interesse no
aprendizado e aprimoramento musical.
Há referências de que na Vila de Nossa Senhora da Conceição do Sabarabuçú, (Sabará) havia mais de 1.000 músicos — compositores, instrumentistas, maestros, cantores — no final do século XVIII.
A
Sociedade Musical Santa Cecília de Sabará é uma das mais antigas e
tradicionais de Minas Gerais. Sua organização data de 22 de novembro de
1781, dia de Santa Cecília, padroeira dos músicos.
No século XIX seus membros formaram uma corporação musical com uma Orquestra de Cordas e um Coral. Os componentes executavam peças litúrgicas nas igrejas e participavam de eventos oficiais no município.
Algumas apresentações realizadas no Teatro Elizabethano de Sabará foram inesquecíveis. Uma delas foi durante a visita do Imperador do Brasil D. Pedro I, em companhia da Imperatriz Dona Amélia.
No final do século XIX, com a queda da atividade de
mineração e a conseqüente diminuição das riquezas, as orquestras
profissionais tiveram suas atividades bastante reduzidas e a música mineira passou a se expressar por meio das inúmeras bandas
formadas nas cidades e povoados. As cordas (violinos, violas e
violoncelos) foram abandonadas progressivamente e os instrumentos de
sopro (flautas, fagotes e trompas), substituídos por clarinetes,
trompetes, trombones e tubas.
A Banda Santa Cecília, nascida no
contexto dessa época, conseguiu sobreviver aos obstáculos impostos pelas
diversas mudanças culturais e sociais dos últimos tempos. Tem se
apresentado em comemorações importantes, tanto em Sabará quanto em
outras partes do país. Um exemplo marcante foi a presença na inauguração da capital mineira em 1897, a então Cidade de Minas, hoje Belo Horizonte.
A participação da Banda em concursos e encontros de bandas está
registrada em diversos troféus, placas, medalhas, diplomas e
fotografias.
A Sociedade Musical Santa Cecília de Sabará é sem dúvida uma herança valiosíssima da rica história cultural de Minas Gerais.
COMO SE MANTEVE VIVA
Desde sua criação a Sociedade Musical Santa Cecília é uma
entidade civil, sem fins lucrativos, voltada única e exclusivamente
para a criação, ensino e divulgação da música, em especial a música
colonial mineira. Até meados do século XX, suas principais
patrocinadoras eram as Irmandades Religiosas. Mais tarde chegou a
assinar alguns contratos remunerados e com o dinheiro recebido mantinha
o funcionamento da corporação, incluindo os gastos de manutenção do
patrimônio e os administrativos. Algumas fases foram extremamente
difíceis devido ao abandono a que, por muito tempo, ficou relegada a
cultura nacional.
Porém, sempre conscientes da importância histórica e do
valor da música para a vida social e cultural, membros e parceiros da
corporação nunca deixaram que suas portas fossem fechadas em
decorrência das diversas dificuldades. Alguns se prontificaram a pedir
ajuda financeira, passando de casa em casa, enquanto outros tentavam
buscar membros para recompor os grupos musicais. Nesse trabalho vale
registrar uma pequena homenagem póstuma ao músico Geraldo Costa.
Em passos já trôpegos mas insistentes, dedicava os seus quase oitenta
anos ao trabalho diário de “buscar um músico, ou simplesmente descobrir
alguém que gostasse de música, não importando onde estivesse, pois
Santa Cecília não podia ficar decepcionada justamente em Sabará, cidade
que abriga uma das mais antigas bandas do Brasil”.
A CORPORAÇÃO HOJE
A Sociedade Musical Santa Cecília tem uma importância
impar para a cultura mineira. Em sua sede é resgatada a história da
música mineira através da execução de composições dos seus ilustres
membros; nela encontram-se imagens de fases da Sociedade Musical
Sabarense que são marcas importantes da história das Minas Gerais. Em
sua sede também são formados novos músicos enquanto os veteranos se
aprimoram e proporcionam, a quem quiser entrar, uma boa música para ser
apreciada.
Mesmo assim, as dificuldades para manter a corporação em
atividade permanecem e não são muito diferentes das registradas
historicamente. O custo básico envolve salários de professores,
fornecimento de uniformes, conserto e manutenção de instrumentos, entre
outros. A abnegação e o idealismo de seus membros, fontes de
revitalização da Sociedade Musical Santa Cecília, não são suficientes
para mantê-la em atividade; a força do trabalho voluntário dos músicos
não consegue atender adequadamente a demanda.
Nos últimos anos algumas conquistas reascenderam
esperanças na corporação. Com a ajuda da Prefeitura Municipal, de alguns
parceiros, contribuições da população e valores arrecadados através
das leis de incentivo à cultura foi possível reconstituir a Orquestra
da Sociedade Musical.
O projeto “VOLTA ORQUESTRA SANTA CECÍLIA”, cujo objetivo
principal é revitalizar a música antiga e contemporânea produzida em
Minas Gerais, nasceu em meados de 1.985 impulsionado pelo entusiasmo de
pessoas que querem "ver a banda passar" mas não querem deixar passar o
acervo, as peças de autoria dos artistas do século XVIII que em Sabará
nasceram, viveram e contribuíram para a cultura musical de Minas
Gerais.
Até o inicio do ano 2000 foram adquiridos métodos,
instrumentos e realizados melhoramentos nas condições físicas da sede
para a efetiva implantação do projeto que em 2.003 começou a tornar-se
realidade.
A BANDA E A ORQUESTRA
O projeto Volta Santa Cecília abrange não apenas a
revitalização da orquestra como também o aprimoramento artístico dos
integrantes da Banda Santa Cecília.
A troca de experiências, informações e a aquisição de mais
conhecimentos, é fundamental para o crescimento da Sociedade Musical.
No âmbito social, o projeto é uma ocupação saudável para
pessoas da terceira idade, uma alternativa para a profissionalização de
jovens, a maioria deles carentes, além de ser uma atividade
extremamente benéfica para o desenvolvimento pessoal de todos.
Para a formação da orquestra foram abertas 40 vagas para
estudantes, foram contratados 5 professores especializados em ensino e
uso de instrumentos de corda, sendo um deles para ensinar musicalização
e solfejo.
A sede abriga hoje um verdadeiro conservatório de música
que oferece atividades de teoria e prática musical a jovens que se
interessam pelo ensino da música, preferencialmente aos que se propõem a
participar ativamente como membros da corporação.
Além das teorias e praticas executadas durante as aulas e
ensaios, professores e dirigentes acreditam que o ambiente é
extremamente propício para a melhoria das relações humanas, já que o
trabalho em equipe é um fator inerente ao sucesso do conjunto.
Dedicação, concentração, respeito, paciência, são apenas
alguns dos ingredientes básicos para o aprendizado e o aprimoramento
musical.
O VALOR SOCIAL DA MÚSICA
Atualmente, além dos custos já existentes, o crescente
interesse pelo aprendizado da música tem exigido a otimização dos
recursos necessários para a continuidade das propostas do projeto. Por
isso, a Sociedade Musical Santa Cecília está sempre em busca de novos
parceiros para a obtenção dos recursos necessários à sua manutenção.
Contribuir para o desenvolvimento humano, resgatar a
riqueza musical produzida em outras épocas, formar músicos que possam
atuar nas diversas categorias de expressa musical, conscientizar a
população em geral sobre a importância da música como fator de
integração social são algumas das mais caras aspirações dos sabarenses
ligados à arte musical.
FONTE : http://santaceciliasabara.hd1.com.br/historico.html
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