quinta-feira, 10 de maio de 2012

Biografia de Maestro Duda, do projeto Frevos de Pernambuco


RESUMO: A tradição musical pernambucana, sempre teve as orquestras de frevo como    elemento
de representação, divulgação e valorização da música de Pernambuco e na rica atuação   musical do
maestro Duda, ressaltamos seu enorme significado          na cultura   pernambucana  e sua influência
determinante no surgimento atual de uma nova forma de se tocar o frevo.
PALAVRAS-CHAVE: música de Pernambuco, frevo, orquestra
Maestro Duda: Vida e Obra
José Urcisino da Silva, mais popularmente conhecido como MAESTRO DUDA,
instrumentista, compositor, arranjador e maestro, nasceu na cidade de Goiana, interior de
Pernambuco, em 23 de dezembro do ano de 1935. Aos 71 anos de idade é um dos
representantes das “Orquestras de frevo e seus grandes maestro”, caracterizados por não só
regerem as orquestras, como por também criarem os arranjos tocados pelas mesmas. A
tradição musical pernambucana, sempre teve as orquestras de frevo como elemento de
representação, divulgação e valorização da música de Pernambuco. As atuações das
orquestras nos bailes carnavalescos, difundiram um tipo de marcha-carnavalesca, polcasmarchas
e dobrados, caminhando para um outro ritmo, mais rico e forte ritmicamente, mais
quente, que fazia o povo ferver1. O frevo então se apresenta como resultado da criatividade
musical dos músicos pernambucanos, partindo de elementos externos ( polcas, marchas,
estilos europeus ).
1 A origem da palavra frevo veio da expressão frever, frevedouro.
1
Neste contexto, ressaltaremos o significado de um importante representante da
cultura pernambucana, um grande mestre, o MAESTRO DUDA, assim como a íntima
ligação entre a sua vida e obra com a cultura de Pernambuco. O foco central em questão
constitui-se em um relato de fragmentos da vida do maestro Duda a partir de sua incursão e
trajetória na música pernambucana, expondo os pontos em que situam o maestro em seu
tempo histórico (contexto histórico ), o mapeamento de sua produção artística, assim como
a relação com a produção artística no Brasil e no mundo, e por fim traçar o perfil do
maestro Duda e sua formação autodidata.
A preservação cultural de Pernambuco é essencial ao processo de construção da
identidade pernambucana, do que podemos denominar a “pernambucanidade”. Não é
preciso apenas manter uma mesmo identidade, mas pensar em contribuir para o
enriquecimento das gerações futuras. Segundo Tomaz Tadeu da Silva2 a redescoberta de
um passado faz parte do processo de construção da identidade, assim como a questão das
diferenças. É desta idéia de que a identidade é algo que agrega diferenças e, que mudar não
significa se descaracterizar, situo a genialidade do maestro Duda. Na rica atuação musical
do maestro, é revelada uma capacidade em transitar nas diversas escolas musicais, tanto a
européia como a americana, apropriando-se desses estilos musicais compostos de ritmos,
harmonias e melodias peculiares a estes estilos, colocando-os a serviço da sua música que
apresenta-se predominantemente brasileira. Um exemplo disto é uma de suas mais
conhecidas composições a “Suíte pernambucana de bolso”, onde apropria-se de uma forma
musical européia que é a suíte3, de uma forma bastante particular, incluindo a esta forma
erudita européia o coco de roda, o maracatu, o frevo, o caboclinho, enfim danças e ritmos
do nordeste. A identificação com a cidade, o estado e o país em que nasceu, expressas na
identidade musical de José Ursicino da Silva, exemplo de subsistência e resistência, que de
forma inteligente e criativa coloca um “toque” particular aos gêneros musicais nordestinos.
Nome reconhecido em Pernambuco, no Brasil e no mundo, o maestro Duda
acumula inúmeras manifestações de reconhecimento em uma longa trajetória musical.
2 Cf. SILVA, Tomaz Tadeu da. ( org. ) Identidade e diferença. Petrópolis: Vozes, 2000.
3 A forma suíte constitui-se pela junção de peças musicais e danças em uma única peça musical, tocada de
forma ininterrupta, às vezes apresentando um prelúdio ( peça de abertura ).
2
Duda foi escolhido pelo Projeto Memória Brasileira, da Secretaria de cultura de São
Paulo, como um dos doze melhores arranjadores do século4, suas músicas foram gravadas
no Brasil e no exterior em mais de 100 discos no MPB-SHELL 80 recebeu o prêmio de
melhor arranjador promovido pela Rede Globo de Televisão; inaugurou em 1984 o Iº Vôo
Internacional do Frevo, levando sua orquestra a Miami, seguindo para Boston onde
ministrou aulas de música brasileira na Universidade de Boston. Ainda em 1984
representou o Brasil com sua orquestra na Feira das Nações também em Miami-USA.
Em 1986 integrou com sua orquestra a caravana brasileira do Itamaraty rumo a Paris
junto com artistas como Alceu Valença, Luiz Gonzaga, Djavan, Gal Costa, Fafá de Belém,
para participar do “Grande-Halle “ de Paris, do Colleur’s Brèsil. Em 1988, em
comemoração aos 138 anos do Teatro Santa Isabel, apresentou sua obra “Música para
metais Nº 2” com a participação de Charles Schlueter, renomado trompetista da Orquestra
Sinfônica de Boston; em 1990 atuou como professor de arranjo no Festival de Inverno de
Campos do Jordão-SP, regendo o concerto no Teatro Sérgio Cardoso em São Paulo-SP,
com sua obra “Música para metais Nº 3”; ainda em 1990, foi tocada a sua obra denominada
“Suíte Recife” nos cem anos da OEA, fato que teve destaque no conceituado jornal “THE
WASHINGTON POST”. Em 1992 e 1993 participou como professor de saxofone e
arranjos no Festival Internacional de Londrina-PR; de 1994 a 1997 foi diretor e regente da
ópera-boi CATIRINA, dirigida por Fernando Bicudo e baseada em autos populares do
bumba-meu-boi maranhense, sendo eleito pelo MEC como o melhor espetáculo do ano de
1996. Em 1997 assumiu como diretor-artístico e regente da Banda Sinfônica da Cidade do
Recife; já em 1998 foi eleito para a Academia Pernambucana de Música, ocupando a
cadeira 19 que teve como patrono Lourenço da Fonseca Barbosa, o Capiba.
Fica evidente hoje, diante de um renascer da cultura musical pernambucana,
mas especificamente o frevo, que é quase centenário e um patrimônio imaterial
pernambucano, a influência dos que atuaram nas origens do frevo: os maestros,
instrumentistas e compositores que são as fontes de influência determinante ao que hoje
4 SALDANHA, Leonardo Vilaça. Elementos estilísticos tipicamente brasileiros na “Suíte pernambucana
de bolso” de José Ursicino da Silva ( Maestro Duda ). 2001. 130 f. Dissertação ( Mestrado em Artes ).
Universidade Estadual de Campinas, São Paulo, 2001.
3
podemos constatar no surgimento de uma nova forma de se tocar o frevo. A Spok Frevo
Orquestra que é composta por músicos e inclusive o próprio maestro Spok, apresenta-se
como um grande exemplo de que as bandas de música e as orquestras de frevo são a
verdadeira escola dessa nova safra de músicos, que hoje atuam no cenário musical de
Pernambuco. “...Spok foi integrante inclusive da lendária Saboeira, de Goiana, de onde
saíram, entre outros o seu futuro mestre, o maestro Duda....”5.
É quase unânime dentre os músicos da Spok Frevo Orquestra a existência da experiência de
tocar na orquestra do maestro Duda, tida como referencial a todos os que compõem o
grupo. A admiração e o respeito a sabedoria e a genialidade de Duda é algo presente entre
os músicos. A beleza dos arranjos do maestro Duda impressionam pela simplicidade
sofisticada, que é reconhecida em Pernambuco, no Brasil e no mundo. Sem dúvida a classe
musical reconhece o mestre que é.
5

Maestro Guedes Peixoto é parte da história da música em Pernambuco

Músico fez seu nome nos bailes de Carnaval, à frente da Orquestra Sinfônica e na regência de grandes óperas

Da Redação do pe360graus.com

 Quando ainda era um garoto de nove anos na cidade pernambucana de Goiana (a 60 quilômetros do Recife), Mário Guedes Peixoto ganhou seu primeiro trombone. Logo a disciplina, determinação e principalmente o talento chamara a atenção dos professores, no início do que seria uma carreira brilhante.

"Com 12 anos eu já era músico da banda de música da Saboeira Goiana. O mestre, que era trombonista, me deu um trombone. E eu cheguei a realmente a ter uma boa posição, a ser o primeiro trombone na Saboeira, muita satisfação para mim", relembra.

O garoto cresceu e deixou a cidade natal, para estudar música e Direito no Recife. No início da década de 50, com a inauguração da Rádio Tamandaré, começou uma nova fase na vida do músico. "Eu fui contratado para participar da Orquestra da Tamandaré. E lá chegando eu dirigi a orquestra de jazz, orquestra de sopro. A orquestra era composta de sopro clássico, como se chama a flauta, oboé, fagote e cordas, violino, viola, contrabaixo. E a parte de percussão e jazz, que eu dirigia. E aí chegamos a fazer Carnaval no Internacional, comecei a fazer frevo. Isso durou somente dois ou três anos. Veio a impossibilidade Rádio Tamandaré de continuar pagando, cerca de dois anos depois, quando foi encerrado o trabalho da orquestra. Fomos dispensados e aí eu tive coragem de rumar para outras paragens. fui bater no Rio, em São Paulo, e me fixei em São Paulo", conta.

Lá, Guedes Peixoto foi regente da Orquestra da TV Tupi. Mas a o convite para voltar ao Recife veio apenas dois anos depois, quando o Jornal do Commercio precisou de um regente para a orquestra para a Rádio Jornal. "Era uma famosa orquestra muito boa. Era uma orquestra de concerto, cordas e sopros clássicos e a parte de sopro popular e percussão", diz.

A Orquestra do Maestro Guedes Peixoto ganhou o público e passou a animar os bailes de Carnaval do Clube Português. O público disputava convites para participar dos bailes, mas existia também outra disputa: entre a Orquestra do Maestro Guedes Peixoto e a Orquestra do Maestro José Menezes. Mas só quem saía ganhando era o público. "Era um confronto que se realizava entre os clubes Internacional e Português, para ver quem botava mais público, quem terminava primeiro. Ficava-se de olho no Internacional e eles no Português, para ver quem terminava a festa... tinha que terminar depois. Essa era uma prática formidável, com muito entusiasmo e ininterrupto frevo, frevo, frevo", lembra o maestro.

Foi nesta época que Guedes Peixoto começou a compor seus frevos marcantes, com os famosos arranjos e seu inconfundível estilo. "O frevo é como nenhuma outra música. Uma beleza de música pernambucana. É uma música orquestral, puramente orquestral, na qual se usa todos os meios de composição: resposta, imitação, contraponto, todas as regras de composição estão lá. Para orquestrar um frevo é preciso ter conhecimento, por isso são raros os bons frevos", ensina.

Entre os frevos mais tocados do maestro está um que surgiu de uma brincadeira depois de um dos programas da televisão. "Foi embora todo mundo, terminou o programa e ficou um guarda-chuva encostado no palco. De quem é? Do fulano! Tem um guarda-chuva! Não apareceu o dono. Guarda aí! Passaram-se umas duas ou três semanas vezes e ninguém aparecia. E terminou numa brincadeira e eu aproveitei, na época, e fiz um frevo chamado 'O
Homem do Guarda-Chuva'".

Na década de 60, Mário Guedes Peixoto entrou na Orquestra Sinfônica do Recife. Ele foi convidado para tocar trompa e chegou a ser o primeiro trompista. Se destacou tanto na orquestra que em 75 passou a ocupar o cargo de regente. Ele ficou conhecido pelo perfeccionismo. Mas mesmo à frente de uma orquestra sinfônica não esqueceu a música popular.

Quando ainda era trompetista da Orquestra Sinfônica, ele deu os primeiros passos na regência de grandes óperas. "Eu fui atraído para o teatro de ópera de Pernambuco e passei a ser o regente. Então, nos concertos líricos, eu fazia as orquestrações, ensaiava com os cantores. Comecei a ganhar também um terreno nessas músicas de canto, música lírica, então óperas. Eu chegava a fazer concertos apenas para o teatro de ópera. Cheguei até a fazer La Traviata. Ópera composta mesmo".

O convite para ser regente titular da Orquestra Sinfônica do Recife veio do então secretário de Cultura, Ariano Suassuna. À  frente da missão, o maestro se dedicou à renovação. A Orquestra continuou tocando os clássicos, mas aos poucos, a música popular também ganhou espaço. "A Sinfônica nunca foi privada de tocar música popular. O que faltava era jogo de cintura, habilidade de quem dirigia. Pode-se tocar com caráter erudito a música popular ou vice-versa", diz.

Um dos exemplos que mostram esse gosto pela união da música erudita e da popular é a Polimorfia Nordestina É uma composição do próprio maestro. A peça foi apresentada pela primeira vez em 1990.

O maestro deixou a Orquestra em 1992. Mas esse gosto pelo popular ficou. Aos 77 anos, o maestro encontrou forças para subir mais uma vez no palco. No encerramento do Carnaval deste ano por alguns minutos ele regeu a Orquestra Multicultural do Recife. Os músicos tocaram "O Homem do Guarda-Chuva".

Veja no vídeo relacionado a esta matéria o programa especial exibido pela Globo Nordeste em homenagem ao Maestro Guedes Peixoto.


fonte de pesquisa :  http://pe360graus.globo.com/diversao/diversao/musica/2010/02/27/NWS,508466,2,225,DIVERSAO,884-MAESTRO-GUEDES-PEIXOTO-PARTE-HISTORIA-MUSICA-PERNAMBUCO.aspx